Impressões e discussões sobre textos de referência para as práticas enconttreiras. Leitura realizada no dia 13 de agosto de 2018.

Gustavo Steinmetz Soares

Curitiba, 24 de agosto de 2018

Buenas, esse post é uma primeira tentativa de tentar compartilhar a discussão que o coletivo realiza todas, ou quase todas, as segundas-feiras. A princípio nos reunimos na sala do coletivo localizada no terceiro andar do prédio Bigarella, no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, já faz quase duas semanas desde a leitura do texto desse post então, salvem alguma irregularidade. 🙂

É da autora Shannon Speed, Antropóloga e estudiosa dos Nativos Americanos, é professora associada na University of California e trabalhou durante duas décadas no México, em parte com comunidades indígenas.

Faz parte do capítulo 26 do Tomo II do livro Conocimientos y Práticas Políticas: Reflexiones desde Nuestras Práticas de Conocimiento Situado, que trás nos seus trêd tomos discussões conceituais e experiências práticas realizadas nos últimos anos que tem como base pensamentos e metodologias horizontas, feministas, decoloniais e/ou pós-coloniais.

Es un libro de nuestro tiempo, en lo que nuestro tiempo ofrece de más genuina esperanza a los pueblos oprimidos, de más articulada visión de los retos de la liberación, de más consistente diseño de los caminos sentipensantes de la lucha. En resumen, es un libro de nuestro tiempo en lo que éste tiene de tiempo emergente. (Boa Ventura de Souza Santos, Prólogo – Tomo I, pág. 6) 

Faz uma discussão existente dentro da Antropologia, o qual pode ser aplicado na Geografia, sobre os limites de uma pesquisa ativista. Qual é a postura que alguém que se propõe a estudar e compreender as dinâmicas e processos existente em comunidades subalternizadas, contextualizadas em conflitos, lutas e reivindicações por direitos, negados por processos hegemônicos?

A Antropologia nos Estados Unidos passou por uma crise de representação frente às lutas descolonizadoras, na questão da relação entre investigadores e sujeitos. Até certo momento assumia uma perspectiva de objetividade científica (“sem envolbimento com a causa”), mas a crise questionou isso e mostrou uma nova postura, ativa e politicamente engajada, que a autora chama de “investigación activista”

Por investigación activista me refiero a un compromiso franco para involucrarnos con nuestros sujetos de estudio de manera que compartamos metas políticas. (página 276)

É uma discussão que surge do confronto entre duas abordagens, uma que se propõe mais científica, mais literária, e outra mais aplicada, com projetos co-participativos. É parecida, guardada as especifidades, o confronto que a Educação Popular faz com a Educação Convencional, podemos chamar de investigação-ação participativa. A autora fala que não há uma necessariamente uma separação a investigação tem que ser ativista mas criticamente comprometida, ou seja, termos o engajamento político mas com uma postura crítica em relação ao próprio trabalho.

Al renunciar a la colaboración, se pierde ese diálogo, potencialmente complicado, pero también potencialmente fructífero, que deja así de alimentar el análisis. (página 276)

A autora traz como exemplo o trabalho que fez com uma comunidade indígena chamada Nicolas Ruiz, no processo de reconhimento como tal frente a OIT. Localizada em Chiapas, no México, num contexto de conflitos por terra. A comunidade havia perdia o costume da língua, um dos principais elementos de identificação indígena no México, 90% das terras é coletiva, as decisões da comunidade eram feitas em assembléias onde o consenso era a base do sistema de governo. A comunidade se assossiava a partidos políticos diferentes de acordo com o contexto, o que gerou alguns conflitos internos (incentivados pelo governo), se declarando em um momento como comunidade indígena e outro como camponesa, com base zapatista.

En concreto, nosotros, y yo en lo personal, teníamos un vínculo particular con la comunidad y el conflicto basado en múltiples factores sobrepuestos: políticos, personales y organizativos. (página 281)

Como antropóloga ativista a autora possuia motivaçõers compartilhadas com a comunidade, mas percebia que ocupava um lugar de fala de especialista o que procava uma desigualdade de poder. Por isso questiona a autoridade do especialista e assume o compromisso de retorno para a comunidade. Mas mesmo assumindo essa postura a autora coloca que em determinado momento estava presa a alguns preconceitos da academia, a “fluidez cultural y esencialismo estratégico”, tentando em um primeiro momento encaixar a comunidade sob esses olhares. Porém no diálogo com a comunidade percebeu que estava deixando de notar os efeitos reais de identidade ao focar nas transformações diárias, fluidez, da cultura em Nicolas Ruiz. Assim, nenhuma perspectiva ou conceito que venha da academia pode sobrepôr a autonomia dos sujeitos da comunidade.

Esta descolonización involucra el reconocimiento de que los pueblos indígenas –de que todos los pueblos, de hecho– realizan sus propios análisis de sus procesos sociales, a pesar de que con frecuencia lo hagan desde premisas distintas a las del antropólogo. Para crear relaciones de investigación descolonizadas es indispensable lograr que ese conocimiento dialogue con el conocimiento antropológico. P.285


O texto nos fez perguntar se a investigação ativista seria uma metodologia de pesquisa ou uma postura política, pois muitas vezes em nossos trabalhos nos deparamos com o tópico “Metodologia” no qual temos que ter defini antes de começá-los de fato. Mas pensamos que talvez pensar no método e na metodologia antes não seria preciso, esses vão se definindo na medida que o trabalho avança, na medida que vamos conhecendo outros trabalhos e autorxs. Podemos pensar em:

  • procedimentos metodológicos: técnias de pesquisas;
  • método: forma de olhar, corpo teórico, o que dá sentido à metodologia, é algo que se consstrói, não é pronto, vem da sua experiência de vida;
  • metodologia: Ordem na qual ocorre os procedimentos;
  • postura investigativa: Como você se situa na sua pesquisa.

Quando pensamos em metodologias horizontais, que sejam engajadas e participativas nos deparamos com outro dilema que é o: Engajamento participativo X Produtividade acadêmica. Pois o que acontece é que no trabalho junto às comunidades muitas vezes não tem querer, tem demanda, de muita ação e trabalho, para auxiliar nos processos de luta e reivinidicação. Porém muito dos resultados obtidos no dia-a-dia não são aqueles esperados na Universidade, que também têm suas demandas, por isso gerenciar o tempo entre escrever um artigo ou projeto, na qualidade e quantidade que as instituições exigem, e atuar na comunidade se torna complexo, mas não é impossível.

Um aspecto importante do momento atual é que podemos contar mais com publicações, como os livros desse texto, que fundamentem pesquisas ativistas e assim mostrarmos ao mundo da universidade que existem outras pessoas trabalhando e publicando da mesma maneita, além de nos mostrar discussões que estão aliadas a prática, que descolonizam a investigação.

Os tomos I e II podem ser encontrados nos seguintes links: Tomo I e Tomo II.