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NOTA DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS (AGB) SOBRE AS ALTERAÇÕES NO CENSO AGROPECUÁRIO NACIONAL-IBGE

A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), os Grupos e os Laboratórios de Pesquisa em Geografia, Economia e Ciências Humanas e Sociais, ao tomarem conhecimento das alterações propostas pela Diretoria de Pesquisas da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Censo Agropecuário Nacional, vem a público manifestar o seu repúdio a mais uma ação de precarização e imputação de prejuízos à Ciência Nacional, atingindo sobremaneira a qualidade dos dados produzidos e, consequentemente, a possibilidade de construção de conhecimento sobre o agrário e o agrícola do país, que possa subsidiar devidamente a elaboração de políticas sociais e de desenvolvimento para o campo brasileiro. A Diretoria de Pesquisas do IBGE, sob o repetido discurso de ausência de recursos, promove uma redução na quantidade e na qualidade de informações a serem levantadas pelo Censo Agropecuário da ordem de 60%. Tal redução concorre com:

a) a perda histórica de dados que já vem sendo consumada com o comprometimento da regularidade na periodicidade de 10 anos para a realização do Censo, e que, se concretizada tal redução, perde ainda mais a capacidade de análise espacial e temporal comparativas, bem como dos resultados sociais produzidos pelas inúmeras políticas públicas realizadas pelo Estado brasileiro;

b) a impossibilidade de análise dos processos de desenvolvimento da produção familiar, eliminando as informações relativas ao maior universo social do campo brasileiro, os camponeses (agricultores familiares), considerando que estes sujeitos sociais respondem por mais de 70% da produção nacional de alimentos e mais de 80% do pessoal ocupado no campo brasileiro e foram beneficiários das várias políticas públicas voltadas para a produção, a assistência técnica, a comercialização e a distribuição de alimentos, tais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), entre outras, que consolidaram a rede Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), e que também colherá prejuízos de acompanhamento de seus resultados;

c) o não reconhecimento da importância de dados sobre a produção agroecológica e uso de agrotóxicos, uma vez que a retirada das questões sobre os processos produtivos impossibilitam identificar as mudanças nas práticas de manejo ambientalmente corretas e o reconhecimento do pluralismo social e tecnológico da produção agrícola brasileira, e,

d) a obtusa leitura do espaço rural, no que diz respeito às informações acerca do uso e da disponibilidade dos recursos hídricos que, atualmente, não mais se coloca como um problema isolado das áreas semiáridas do país, mas se revela num problema central deabastecimento e na produção agrícola e agroindustrial em todas as regiões, atingindo drasticamente os grandes centros urbanos e suas áreas limítrofes, concorrendo com a utilização das águas subterrâneas e produzindo quadros generalizados de baixa disponibilidade hídrica. Neste caso, perde-se, inclusive, os resultados das políticas de construção de cisternas e tecnologias sociais de abastecimento público. Considera-se, ainda, que a ausência de tais questões, obscurece à sociedade brasileira o peso que a produção agrícola e agroindustrial de commodities têm sobre o consumo de água, e continua-se a colocar sobre cada cidadão individualmente a responsabilidade sobre a crise hídrica nacional.

Trata-se de uma medida que representa a omissão de informações e a busca de invisibilização social, econômica e produtiva da maior parte dos produtores agrícolas brasileiros. Assim a AGB e as entidades que subscrevem este documento, conclamam seus associados, pesquisadores, entidades científicas e ao qualificado corpo técnico do IBGE, que se oponham a este processo de precarização da Ciência Nacional, impeçam os sérios prejuízos à produção do conhecimento e denunciem o objetivo central dessas alterações: desvanecer a importância da contribuição do trabalho e da produção familiar camponesa à sociedade brasileira.

São Paulo, 28 de março de 2017.

AGB – ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS

DIRETORIA NACIONAL

 

ANPEGE – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia

ABRA – Associação Brasileira de Reforma Agrária

AGRÁRIA – Laboratório de Geografia Agrária – (USP), São Paulo-SP

CEGET – Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (UNESP), P. Prudente-SP

CEAT – Centro de Estudos Agrários e do Trabalho. UEPB – Campinas Grande – PB

CETAS – Centro de Estudos do Trabalho, Ambiente e Saúde (UNESP), P. Prudente-SP

COLETIVO QUEIXADA – Curso de Licenciatura em Geografia (UFPR), Setor Litoral-PR

ENCONTTRA – Coletivo de Estudos sobre Conflitos pelo Território e pela Terra (UFPR), Curitiba-PR

GEA – Grupos de Estudos e Pesquisa em Geografia Agraria, Universidade Regional do Cariri – URCA

Grupo de Estudos, Pesquisas e Extensão em Geografia Agrária da FFP/UERJ.

GEOLUTAS – Geografia das Lutas no Campo e na Cidade (UNIOESTE), Marechal C. Rondon-PR

GETERR – Grupo de Estudos Territoriais (UNIOESTE), Francisco Beltrão-PR

GPECT/PPGEO – Grupo de Pesquisa Estado, Capital e Trabalho (UFS), São Cristóvão -SE

GRUPO PET GEOGRAFIA – UFAC, Rio Branco, AC

LABERUR – Laboratório de Estudos Rurais e Urbanos (LABERUR/UFS) São Cristóvão – Se

LAB. ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE ESPAÇO AGRÁRIO E CAMPESINATO/UFPE, Recife-PE

LABOTER/TRAPPU – (UFG), Goiânia-GO LAEPP (CEAPLA) – (UNESP), Rio Claro-SP

LAGEA – Laboratório de Geografia Agrária (UEM), Maringá-PR

LAGEA – Laboratório de Geografia Agrária (UFU), Uberlândia – MG

LATEC – Laboratório de Análises Territoriais Campo-Cidade (UEL), Londrina-PR

LATER – Laboratório de Estudos Territoriais, PPGEO-UFS

NAPTERRA – Núcleo de Apoio aos Povos da Terra (UNILA), Foz do Iguaçu-PR

NATRA – (UNESP),Franca-SP

NERA – Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (UNESP), P. Prudente-SP

OBSERVATÓRIO DA QUESTÃO AGRÁRIA DO PARANÁ – UFPR – Curitiba- PR

REDE DATA LUTA – Grupos de Pesquisa sobre a Luta pela Terra, Brasil

TRAMAS – Terra, Trabalho, Memória e Migração (UFSCAR), São Carlos-SP

Carta aberta para que a Universidade continue sendo um espaço de debate de ideias…

Curitiba, 27 de março de 2017

Carta aberta para que a Universidade continue sendo um espaço de debate de
ideias e de ações e contra as agressões nas redes sociais após a Ciranda de
Debates “A reforma do ensino médio na Geografia: enfrentando a
desinformação e o descaso”organizada no Departamento de Geografia. Uma
mensagem de apoio e concordância com a Professora Mônica Ribeiro da Silva


No dia 10 de março de 2017, o Coletivo de Estudos sobre Conflitos pelo Território e
pela Terra (ENCONTTRA), grupo de pesquisa do Departamento de Geografia,
organizou uma Ciranda de Debates com o tema: “A reforma do ensino médio na
Geografia: enfrentando a desinformação e o descaso”. O objetivo desta ciranda era
informar e debater com a comunidade universitária, especificamente com os
educandos do curso de geografia, a reforma do ensino médio e seus possíveis
desdobramentos, diante das escassas informações que circulam na
sociedade,inclusive no âmbito de um curso de licenciatura como o nosso.Da Ciranda
participaram como debatedores a profª. Ângela Massumi Katuta (UFPR/Setor
Litoral),a profª. Mônica Ribeiro da Silva (UFPR/Setor de Planejamento de Educação
Escolar) e o prof. William Simões (UFFS/Chapecó). Todos eles com um enorme
acúmulo de estudos e experiências sobre o tema.
A despeito da ciranda e dos debates terem ocorrido como de praxe na instituição
universitária, com um público de mais de 60 pessoas e com uma circulação da
palavra que respeitou todos os presentes, fomos informados pela profª. Mônica
Ribeiro da Silva que o prof. Luís Lopes Diniz Filho, docente do curso de Geografia,
que estava entre o público presente na ciranda, fez uma postagem no seu blog no
qual fazia ataques pessoais à professora. A postagem ocorreu no dia 14 de março
(ver no endereço do Blog Tomatadas: http://tomatadas.blogspot.com.br/) e foi
publicado em outro blog de forma mais ofensiva ainda no dia 21 do mesmo mês (ver
no endereço do Blog Vista Direita: http://www.vistadireita.com.br/blog/professoradoutrinadora-da-ufpr-e-pega-no-pulo/).
Compreendemos que a instituição universitária pública possui a autonomia e a
obrigação de realizar amplo debate sobre as recentes transformações propostas
pelo Governo Federal que lhe afetam e sobre as quais são feitas diversas pesquisas
e mobilizações. Entendemos também que o papel da instituição em tempos de
ataque ao Estado Democrático de Direito é o de fomentar a constituição de espaços
de debates, nos quais cada profissional tenha a liberdade de se posicionar de
acordo com suas pesquisas, seus referenciais teórico-metodológicos,
epistemológicos, filosóficos e, consequentemente, suas opções societárias e
políticas em torno de temas candentes para a sociedade brasileira como um
todo.Assim, compreendemos que compõe o
ethos da instituição universitária e dos
que nela estudam e trabalham os embates, questionamentos e disputas políticas por
processos civilizadores e projetos os mais diversos de sociedade brasileira.É neste

sentido que entendemos que esse tipo de ações nos ajuda a construir uma
Universidade onde o pensamento crítico e o compromisso social saiam revigorados,
sempre com a premissa do fortalecimento de uma democracia real e do
cumprimento da missão da UFPR que nos é tão cara: “Liberdade na construção e
autonomia na disseminação do conhecimento”.
Nesta perspectiva, em nossa avaliação, as ações realizadas pelo prof. Diniz Filho
não contribuem para o bom, amplo e livre debate e fortalecimento da democracia
institucional. Pelo contrário, prejudica a todos, inclusive a ele mesmo e ao próprio
Departamento e Curso onde trabalha, na medida em que outros profissionais
convidados pela casa podem declinar convites para palestras e debates, pois podem
ter receio de sofrerem ataques pessoais deste tipo. Como o que sofreu a profª.
Mônica, com uma exposição pessoal e unilateral nas redes sociais, onde uma única
versão é colocada a público, após um debate público. Essas opiniões expressas fora
do calor do debate cara a cara, merecem todo o nosso repúdio, sobretudo, nesse
momento tão perigoso de auge da “pós-verdade” e da tirania dos fatos alternativos
de quem grita mais alto nas redes sociais.
Assim, entendemos que é fundamental que debatamos amplamente no nosso Curso
esse tipo de postura antiética para não sermos todos arrastados pela fama inglória
do Departamento concordar com práticas que apenas buscam a polêmica a
qualquer custo. Parafraseando uma célebre citação do jornalismo, poderíamos dizer
que essa postura prima pelo seguinte princípio: “não deixe que a verdade estrague
um bom e polêmico
post”. Somos contra tais atitudes, juntamente com muitos outros
que participam dessa comunidade universitária.
O ENCONTTRA deixa claro que não concorda com esse tipo de manobras que nos
desgastam e nos afastam dos debates centrais: como a reforma do Ensino Médio, a
terceirização, a “escola sem partido” e o pacote de eliminação de direitos que são
aprovados compulsoriamente e que afetam nosso curso, os estudantes e os já
formados? Temos preocupação com estes temas e sempre abertos ao diálogo, por
isso, queremos mostrar nossa mais firme solidariedade com os posicionamentos da
profª. Mônica Ribeiro da Silva, que tem mostrado sua defesa irrestrita da
universidade pública, gratuita e de qualidade, construída com espírito crítico por
meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão. Além da solidariedade também
queremos expressar nosso agradecimento e nossa dívida por compartilhar sua
experiência e seus conhecimentos na Ciranda de Debates de 10 de março e,
tomara, nos desafios que enfrentaremos pela frente.
Obrigado Mônica pelo teu papel na construção de uma universidade efetivamente
democrática que também temos tentado construir!
Coletivo de Estudos sobre Conflitos pelo Território e pela Terra (ENCONTTRA)
Grupo de pesquisa do Departamento de Geografia/UFPR

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Editado por Coletivo Enconttra &